coronavírus

VÍDEO: no Dia do Enfermeiro, os relatos de quem enfrenta o coronavírus diariamente

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Fotos: Pedro Piegas e Gabriel Haesbaert (Diário) e arquivo pessoal
Larissa, Jonatas, Cleci e Joseane combatem o coronavírus na linha de frente

Obrigado, Cleci, Jonatas, Larissa, Joseane e a todos os enfermeiros! Atrás das máscaras, existem pessoas. Para além do profissionalismo, seres humanos, com emoções, temores, alegrias, tristezas e marcas, tanto na pele, quanto na alma. A pandemia do novo coronavírus tem se mostrado um desafio para toda a humanidade, principalmente para aqueles que dedicam a própria vida para cuidar da do próximo. Neste 12 de maio, Dia do Enfermeiro, o Diário presta uma homenagem a esta classe que ocupa a linha de frente no combate ao vírus.

FOTOS: bustos e estátuas passam a utilizar máscaras em Santa Maria

Nossa reportagem conversou com quatro enfermeiros de quatro dos "fronts" santa-marienses, que encaram, dia após dia, a ameaça da Covid-19. Confira, a seguir, o relato de profissionais do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), do Pronto-Atendimento Municipal, da Casa de Saúde e do Hospital Alcides Brum.

A todos os profissionais da área da saúde, nosso muito obrigado! 

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Joseane Cansian Severino, 35 anos, enfermeira da CTI do Hospital Alcides Brum

"Desejo que todos os colegas tenham força. Isso vai passar e a gente vai vencer"

"Nossa rotina mudou bastante. Já estou há bastante tempo na enfermagem. Era algo que eu tirava de letra. Hoje, está tudo diferente, com toda uma rotina diferente de higiene, de trocar de roupa na chegada e na saída, também. Ao chegar em casa é outra rotina maçante de higiene. Lá, na UTI, estamos com pacientes positivos, então a gente fica com a máscara N95 todo o tempo. Então, saio com o rosto doendo, a cabeça dói, nariz machucado. A contaminação é o temor de todo mundo hoje. Em casa, a gente tem a família. Já lidamos com tanta coisa, mas nada do porte do coronavírus.
Eu trabalho em CTI, então já lidamos com bactérias muito resistentes. Mas com o coronavírus, tem um temor grande. Sabemos a proporção, tudo o que pode acontecer. Tenho pais idosos, uma filha de quatro anos. Então, às vezes, saio chorando, pensando em ir para casa, no que vai acontecer. Ontem (domingo) foi Dia das Mães. Queria muito dar um abraço na minha mãe, mas, infelizmente, o contato está sendo de longe. Na UTI, vivemos um momento bastante marcante, que está sendo nossa rotina. A maioria dos pacientes chega consciente e acaba evoluindo para a intubação e a ventilação mecânica. Antes da intubação, com a autorização do médico, a gente faz uma ligação para a família, e o familiar se despede. Na verdade, a gente não sabe o que vem depois. Até fico emocionada quando falo disso. Todo mundo tem família. Isso marca bastante. É o momento que ele se despede, depois é sedado, entubado, e a gente faz o possível para que saia, e graças a Deus temos tido sucesso. Não tínhamos isso antes, e em função da pandemia, a despedida é assim.
Minha mensagem para a população é: fique em casa, se possível. Não é o momento de festa, de aglomeração, de atividades que não sejam essenciais. A contaminação está aumentando, a gente está vendo. É uma coisa que estamos fazendo pelo próximo. O vírus não vai escolher, daqui a pouco você está evitando de ele chegar até a tua família, a alguém que você ama. Com a função da pandemia, a gente repensa a vida, a profissão. Penso muito na minha equipe, da UTI, que é muito boa. Penso muito em dar um abraço em todo o mundo. É uma profissão muito nobre. Talvez a gente não escolha estar aqui, talvez nós sejamos escolhidos. A gente lida com muita coisa difícil, não só a doença, mas todo o contexto que ela gera. Desejo que todos os colegas tenham força. Isso vai passar e a gente vai vencer."

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Cleci Maria Cardoso, 59 anos, coordenadora de enfermagem do Pronto-Atendimento do Patronato

"Estamos aprendendo a sorrir e a acolher com o olhar"

"Lidar com esta pandemia é o maior desafio enfrentado na minha vida profissional, que é dedicada à saúde pública. Posso dizer que este é o maior inimigo que já enfrentamos. Estamos passando por um momento único, em que ao mesmo tempo em que atendemos e ajudamos os pacientes, também estamos precisando de cuidados, inclusive psicológicos, para enfrentarmos os nossos desafios internos.
Como coordenadora de Enfermagem, preciso estar à frente de tudo e preocupada com tudo e todos, principalmente com os profissionais que estão na linha de frente, prestando atendimento aos pacientes, ao mesmo tempo que preciso estar atenta às necessidades dos pacientes que procuram nosso serviço. Estamos trabalhando sempre com toda a responsabilidade que nos compete. As máscaras escondem nossas preocupações e medos e não nos resta nenhum traço de individualidade, apenas nosso profissionalismo. Mas estamos aprendendo a sorrir e acolher com o olhar. Essa pandemia nos trouxe também vários aprendizados.
Pensamos que não é possível salvar vidas, se a própria existência não se fizer preservada. Mesmo diante de tantos desafios, que possamos manter nosso equilíbrio, para cuidar e acolher nossos pacientes e suas famílias com o que há de melhor em nós. Não sabemos quanto tempo ainda teremos que lutar, e o tempo torna-se relativo, pois o tempo dispensado para um paciente que está em franca luta pela vida tem significados diferentes. E resta a nós, profissionais da saúde, otimizar e proporcionar a este paciente o que há de melhor em nós, pois talvez sejamos o último rosto que este paciente irá visualizar, ou o último toque que ele receberá. Tratamos com a dignidade que gostaríamos de ser cuidados. Muitos profissionais se infectaram durante sua caminhada do cuidado, puderam vivenciar na pele e ter a sorte de relatar a importância dessa empatia e compaixão ao nosso semelhante. Que todas essas vivências sirvam como uma escola, com provas diárias.
A maior lição que fica é: não podemos esperar para sermos felizes amanhã. A felicidade não pode ser adiada para o dia seguinte."

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Jonatas Wrague, 39 anos, enfermeiro no Hospital Casa de Saúde e UPA 24h

"Até que saia o teste negativo, todos são positivos. Não podemos baixar a guarda"

"O que mais mudou, com a chegada da pandemia do coronavírus, foi ter que trabalhar mais em ambiente fechado, para a gente que é de pronto-socorro. A orientação para todos os colaboradores é sobre a importância de toda a paramentação, do cuidado, principalmente com o profissional, para não termos baixas em um momento como esse. Mesmo a gente tendo uma grande quantidade de profissionais no momento, se alguém se infectar, o risco de diminuir muito a equipe é um problema para nós. No trabalho, a gente interpreta que todo paciente que entra aqui na área isolada é Covid-19. Todos. Até que saia o teste negativo, todos são positivos. Não podemos baixar a guarda. Mas é grande a preocupação em saber que lidou com um paciente Covid positivo. Não tem como não se preocupar. Porém, como a gente está bem paramentado e equipado, isso nos traz bastante segurança. Eu me sinto mais seguro aqui dentro do que aí fora.
A nossa preocupação também é com o familiar. A gente já teve algumas perdas (não por coronavírus). E essas perdas ficam marcadas pelo familiar não poder dar o último adeus. O que mais me deixa triste, me complica, é a questão de pensar sobre quando o paciente vai a óbito. Hoje, como a gente ainda não tem a resposta imediata, se a pessoa é positiva ou negativa para o coronavírus, a maioria dos velórios é fechada ou nem tem. É triste ter que chegar para um familiar e falar. Os que aconteceram foram em casos suspeitos, então a gente tem todo um procedimento de fazer o preparo para poder sair daqui. Conversar com o familiar sobre essa notícia é bem difícil. Também trabalhei na noite da Boate Kiss, e o mais triste daquele momento era ver o rosto do familiar. Para o paciente, a gente faz tudo, dá o máximo que a gente consegue com os meios que a gente tem. Mas com o familiar, às vezes a gente não consegue. Nós não podemos sair da área de isolamento, não podemos dar um abraço, tranquilizar, tentar acalmar, diminuir aquela dor. E pensar que um familiar teu foi a óbito e você não vai conseguir dar o último adeus, é difícil. Eu já tive meu pai falecido, eu consegui estar lá. Mas as pessoas, a partir de agora e não sei por quanto tempo, não vão.
Minha mensagem é para que fiquem em casa o máximo que conseguirem. Eu compreendo também que as pessoas têm que trabalhar. Infelizmente, os sistemas público e privado não estão tão preparados na questão de leitos para todo mundo em um surto assim, tão grande, de uma vez só."

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Larissa Venturini, 25 anos, enfermeira do Pronto-Atendimento do Husm

"A gente sabe que cada paciente é o amor de alguém"

"Tenho atuado diretamente com pacientes suspeitos ou confirmados do novo coronavírus. Como em toda batalha, quem está na linha de frente está em um local complexo. Exige dedicação, preparo, desafios e muitas abdicações. A linha de frente não é um local para romantizar. Desde o final de fevereiro, a nossa realidade começou a mudar. O que antes parecia tão distante virou nosso dia a dia. Nossa estrutura foi escolhida para ser a ala exclusiva para atendimento dos pacientes com Covid no Husm e sofreu mudanças bruscas. Vivemos uma realidade de sobrecarga de profissionais, superlotação de unidades e escassez de recursos. Sem falar que a novidade que o vírus nos trouxe, a incipiência, exigiu aprimorar esses conhecimentos, ter novos protocolos. Vivemos em razão do coronavírus no ambiente hospitalar e extra hospitalar. Desde que os primeiros casos confirmados precisaram de internação, o medo cresceu e alterou nossas rotinas.
Estou chegando meia hora antes do horário habitual porque, quando entramos na unidade de cuidados, temos de nos abster de pertences pessoais para usar os EPIs. Usar esses equipamentos de proteção individual não é nada confortável. A máscara machuca, as roupas são quentes, o óculos e o protetor fácil embaçam e machucam. Depois que a gente adentra à unidade, não pode ir ao banheiro, não pode beber água, não pode comer e tem de tomar extremos cuidados, como não tocar o rosto para evitar contaminação. A gente vive uma escassez de equipamentos de proteção, por isso, é uma questão de consciência não desperdiçá-los. Não posso me dar ao luxo comer ou tomar água. Por isso, ficamos longos períodos dentro da unidade com uso contínuo dos equipamentos.Outro desafio muito difícil é a questão da presença da família. A batalha contra o coronavírus é solitária. A gente sabe que cada paciente é o "amor de alguém". A gente se doa ao máximo para tentar devolver esse amor de alguém para devolver essa pessoa à vida. Tentar proteger a nós, a equipe e devolver as pessoas à vida tem sido a nossa máxima do dia a dia. Tem um momento muito marcante que foi nossa primeira alta de um paciente confirmado. Nesses cinco anos de formada, vai ficar para sempre na minha história. Temos aprendido, dia a dia, a agradecer as pequenas vitórias e nos emocionarmos com elas.Uma situação difícil foi o Dia das Mães, em que não pude passar com a minha mãe. Sei que é para tentar protegê-la.
Os momentos com os meus reduziram, os momentos de lazer, a gente não tem planejado. Apesar dos desafios, a cada dia reafirmo o nosso orgulho e o amor por nossa profissão. Só posso dizer o quanto ser enfermeira é a minha melhor escolha. O orgulho que tenho dos meus colegas, nossa fonte de apoio dia a dia, é indescritível. A gente sabe que está fazendo a diferença, mas é bom que a sociedade nos reconheça. Neste ano, o meu quinto ano como enfermeira, ficará para a história. A gente tem muito trabalho, mas a gente vai continuar, sempre."

*Colaborou Felipe Backes

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